São apenas 140 caracteres. Um texto um pouco maior do que esta frase e a anterior juntas. Esse é o total de letras e espaços permitidos em cada mensagem do Twitter. O tamanho é pequeno, mas os problemas podem ser grandes para quem não souber usar a ferramenta, considerada uma das mais populares redes sociais em todo o mundo. Hoje, existem 105 milhões de perfis criados, responsáveis por gerar 65 milhões de tuítes por dia.
Os números, claro, estarão desatualizados assim que seus olhos terminarem de percorrer este texto. Porém, há algo que não muda no Twitter. Pelo menos, não deveria. Estamos falando do cuidado que se deve ter na hora de responder à mundialmente famosa pergunta: o que você está fazendo? "Bom-senso é fundamental, pois tudo o que você coloca no Twitter é de domínio público", afirma a especialista em comportamento corporativo e professora da Fundação Getúlio Vargas, Daniela do Lago, que no microblog possui o perfil @daniela_lago.
A jornalista Monalisa Brito utiliza bastante o Twitter e reconhece que já passou por uma fase de descuido na rede social. "Já desabafei sobre assuntos do trabalho, mas depois percebi que entre meus seguidores não havia apenas pessoas com quem tenho intimidade. Hoje tenho mais atenção", admite.
Os desabafos sobre a insatisfação com o emprego, aliás, estão entre os dez pecados capitais de quem utiliza o microblog. "O Twitter virou um megafone ou um canal para expressar a insatisfação, mas o que é dito tem um alcance muito grande. Então é importante evitar opiniões fortes ou extremadas sobre o que se passa no trabalho ou determinados assuntos, como opção sexual, religião e preferências políticas", orienta Daniela do Lago.
Para Monalisa, o começo é mesmo propício a uma postura mais desavisada por parte dos usuários. "Tudo é novo no início e isso favorece o erro. Depois, você amadurece e passa a ter noção do que deve e não deve escrever. Sou mais cuidadosa atualmente, porém deixo bem claro que o Twitter é meu espaço pessoal enão profissional", acredita a jornalista.
As armadilhas do Twitter são inúmeras. Além de cair na tentacão de utilizar o microblog como divã para desabafar sobre assuntos mais íntimos, um erro muito comum e que pode gerar problemas na empresa é se deixar dominar pela ferramenta. Esse foi o caso do estudante de direito Roberto (nome fictício a pedido do entrevistado). "Chegava ao estágio e ia logo checar o Twitter. Me viciei a ponto de querer ver as atualizações a todo instante", revela.
O caso de Roberto era ainda mais grave, pois o uso de redes sociais no escritório de advocacia onde ele estagia é proibido. Mesmo assim, o universitário driblava a fiscalização da chefe para acompanhar as postagens em 140 caracteres, fossem de amigos ou desconhecidos. "O meu dia se tornou improdutivo. A solução foi encerrar minha conta há uns dois meses. Hoje, vejo que o Twitter não me acrescentava em nada", diz.
Porém, nem sempre é preciso ter uma atitude radical e dar adeus aos tuítes diários. De acordo com Daniela do Lago, da Fundação Getúlio Vargas, o primeiro passo para evitar problemas é buscar o equilíbrio. "Não dá para levar o Twitter a ferro e fogo e querer contar todos os seus passos. Imagine um funcionário que avisa toda vez que vai começar ou terminar um relatório. Será que isso é importante para ele e a empresa?", pergunta.
A especialista em comportamento corporativo lembra ainda dos cuidados na hora de expor fotos no Twitter. Para Daniela, cada pessoa tem liberdade para divulgar a imagem que quiser, mas deve estar preparada para as consequências. Portanto, pense bem antes de divulgar aquela foto da balada com os amigos no fim de semana. "Vale a pena se fazer as seguintes perguntas: qual imagem quero transmitir, que exemplo vou dar e que rastro quero deixar. As respostas vão apontar que impacto você irá causar", aconselha.
Esses questionamentos não são uma preocupação para o analista de sistemas Filipe Aguiar. Funcionário de um grande hospital do Recife, ele já utilizou o Twitter para criticar pessoas do mesmo ambiente de trabalho. "Uma vez escrevi que achavauma babaquice a atitude desses médicos que desfilam por aí com um estetoscópio pendurado no pescoço para todo mundo saber a profissão que têm. Mas não cheguei a ter problemas com ninguém por conta disso", revela.
Ele afirma que tuíta aquilo que vem à mente e que não costuma apagar o que escreveu. "Se falei, está falado. Acho que a função do Twitter é justamente essa, de você poder mostrar o que é. De qualquer forma, procuro não ofender ninguém. Inclusive, é mais fácil eu ofender a mim mesmo", afirma.
Quem é você
A Informática preparou uma lista com os dez tipos de tuiteiros mais comuns. Veja se você se enquadra em algum deles e avalie se o seu modo de agir pode lhe trazer problemas na empresa.
...Sabe-tudo: utiliza o Twitter para mostrar conhecimentos nas mais diversas áreas. Tem opinião formada sobre política, economia, música, cinema e futebol. É uma enciclopédia em 140 caracteres, mas a proatividade na empresa deixa a desejar.
...Tímido: quase não escreve no Twitter e se questiona porque ainda mantém uma conta no microblog. Fica envergonhado quando recebe follow friday e geralmente passa despercebido. Desperdiça a chance de divulgar bons projetos no microblog.
...Polêmico: adora uma discussão. É capaz de discordar de alguém só para iniciar um bate-boca e ver o circo pegar fogo. Compra briga com amigos, desconhecidos e até o chefe. O seu lema é incomodar.
...Tiete: segue jogadores de futebol, cantores, atores e os BBBs do momento. Exulta de felicidade quando um famoso responde ao seu comentário. Perde minutos preciososno trabalho para saber das últimas fofocas envolvendo celebridades.
...Carente: enxerga o Twitter como um psicólogo. Quando entra no microblog, aproveita para desabafar sobre trabalho, o casamento e o aumento da conta de luz. Deixa de trabalhar para narrar seus problemas no divã virtual.
...Sem-noção: escreve palavrão, mostra fotos da bebedeira do último final de semana, dá RT inescrupulosamente e é capaz de tuitar durante um jantar romântico. Avisa sempre que vai almoçar ou ao banheiro e torna-se improdutivo no trabalho.
...Guru: conselho é com ele mesmo. Tem sempre uma frase de Paulo Coelho ou do livro Momentos de Sabedoria para dividir com os amigos. Deixa as atividades de lado para o monitorar via Twitter se tem algum amigo precisando de ajuda.
...Humorista: Esse usuário sempre tem uma tirada engraçada. Ou acha que tem. O trabalho é sacrificado, pois ele está mais preocupado em ser descoberto como novo talento do Pânico ou CQC.
...Indiscreto: também conhecido como fofoqueiro. Escreve sobre os amigos, conta detalhes que não deveria, divulga informações estratégicas. Em vez de trabalhar, publica posts que constrangem os colegas ou podem prejudicar a empresa.
...Reclamão: carinhosamente apelidado de chiliquento. Para ele, nada está bom. Usa os 140 caracteres para reclamar que ganha pouco, não é valorizado e# por que o Twitter está fora do ar de novo, hein?
Por Franco Benites, do Diario de Pernambuco.
